Em minha infância cristã, poucas
estórias foram tão contadas como a de um jovem cristão e seu irresistível
desejo de pular carnaval – a defini como estória por não poder comprovar sua
veracidade. Conta-se que este, sempre no período de carnaval, se desviava e
“curtia” os dias de folia regados a drogas, sexo, brigas e noites em claro. Ao
término, no entanto, ele regressava à igreja dizendo-se arrependido e disposto
a “voltar” para Jesus. Em que isso resultou? Jesus, não mais disposto a aturar
sua inconstância, teria tirado-lhe as pernas em um acidente automobilístico,
impedindo-o de pular carnaval. Desde então ele converteu-se e conta seu
testemunho e a lição que aprendeu.
Pode
parecer um pouco de exagero esse conto e questionáveis alguns pontos, mas não
importa se essa estória é verídica. Ela evidencia a indecisão, muito real e
comum para alguns cristãos. E essa indecisão quase sempre vem acompanhada de
uma clara vergonha do Evangelho e em suas propostas e a ilustração sobre o
carnaval é apenas um de tantos exemplos. Vergonha do Evangelho. Temos de
admitir: há pessoas que alimentam esse sentimento e nessa pequena reflexão, eu
te pergunto: por que alguns cristãos vivem meio que se renunciando sua
identidade e ávidos por desfrutar das ofertas do mundo enquanto se escondem
atrás de uma suposta espiritualidade? Não quero ser dogmático nesse assunto,
mas há algumas respostas claras.
É
fato que nós cristãos vivemos constantemente pressionados pelas posições que
assumimos perante quase tudo em nossa sociedade. E essas posições são – ou
deveriam ser – uma oposição à cultura que nos rodeia. Somos diariamente
ridicularizados por nossas convicções acerca da fidelidade no casamento; da abstinência
sexual antes dele; por não consumir drogas, lícitas ou ilícitas; por não
festejar como o mundo festeja com todos os ingredientes que citei
anteriormente. E, claro, o maior exemplo é o carnaval que, nesses dias, tem
pagãos se deleitando na festa da carne e a maioria dos cristãos enclausurados
em retiros. Mesmo o evangelismo nesse período é uma clara mensagem de oposição.
Essa grande guerra a que o crente em Jesus está exposto – sobretudo nós jovens
– diz muito sobre nossa firmeza na fé. Enquanto alguns se mantêm inabaláveis e
não cedem a essas pressões, outros, no entanto, se entregam. Para estes o que
fica evidente é que algumas verdades basilares do Evangelho ainda não ganharam
a dimensão que deveria em suas vidas. E sobre essas verdades, quero frisar uma.
Vamos a ela:
“Por
que não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de
todo aquele que crê”. Romanos 1:16.
Se
o apóstolo Paulo disse que não tinha motivo para se envergonhar do Evangelho é
porque, em seu tempo, para alguns, havia motivo para isso. O contexto dele é
diferente do nosso, mas havia muitas similaridades em relação à oposição do
mundo à pregação do Evangelho e dos valores morais dominantes em sua época. Se
para alguns, crer em Jesus era motivo de piada, sobretudo para os gregos com
seu panteão e para os judeus que esperavam um rei poderoso, para Paulo isso era
motivo de orgulho, de júbilo.
Por
quê? Essa é a questão!
Há
uma diferença enorme entre os crentes que assumem publicamente seu estilo
contrário ao mundo e de acordo com a Palavra de Deus e àqueles que, apesar de
declararem crer em Jesus, vivem como se não o conhecesse ou se envergonham
daquilo que ele exige de nós. A diferença está em como veem o Evangelho. Para
admitir a virgindade perante os amigos; para negar-se a consumir bebida
alcoólica; para cumprir a fidelidade ao cônjuge e tantas outras coisas é
necessário ver o Evangelho como ele, de fato, é. E, como bem enfatizou Paulo,
ele é o Poder de Deus para a salvação do homem.
Era
isso que estava nítido para Paulo e que justificava sua vida por Cristo. Uma
vez que ele tinha experimentado esse Poder, que havia sido transformado por ele
e que o que valia era a nova vida que Cristo lhe ofertara, tudo mais havia se
tornado inútil e a única coisa que o motivava era viver e desfrutar desse
poder, que excede todo o nosso entender. (Filipenses 3:8).
Logo,
está explicado porque alguns sentem vergonha em “remar contra a maré”, enquanto
outros o fazem com prazer. Para esses alguns, o Evangelho não se tornou o
centro de suas vidas; a futilidade do mundo ante a uma nova vida com Deus por
meio de Jesus é algo desconhecido ainda; por fim, falta-lhes o amor quem vem do
próprio Deus, onde tudo o que vem dele torna-se o nosso maior objetivo e
prazer. Sem essas bênçãos do Evangelho, admito, fica complicado renunciar ao
mundo. Isso porque ele ainda exerce sua influência. Para completar esse
raciocínio, seguem-se as palavras de Jesus:
“Aquele
que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me
ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” – João
14:21.
E
como foi com Paulo deve ser conosco. O que define nosso cristianismo é a
veracidade da nossa conversão. É ela – que é um presente de Deus, vale
ressaltar – que nos faz odiar os manjares deste mundo. Se ainda não é assim,
isso significa que o evangelho vivido é o anátema, humanista e o “da moda”.
Queira Deus que você não esteja incluído no rol dos que se envergonham com as
decisões que o Evangelho nos exige ou no rol dos que ignoram essas decisões.
Mas se for, o conselho é o seguinte: peça a Deus pelo seu poder revelado no
Evangelho. Ele, e não a religiosidade vendida por aí, é capaz de nos fazer amar
sua vontade e de nos opor a essa cultura de afronta a Deus.
Apesar
de eu destacar a questão do carnaval com a pequena estória no inicio, essa
questão se abrange para todas as áreas de nossa vida em que nossa fidelidade a
Deus é posta à prova. Para não termos vergonha da proposta do Evangelho,
repito, somente o Poder de Deus em nós.
Para
finalizar, eu não podia deixar de passar um recado que vi de uma amiga esses
dias: aos cristãos que desejam curtir o carnaval, favor, não se esquecer de
levar a máscara que carregam durante o ano dentro da Igreja.
Em
Cristo,
Tiago
Lino – Editor do Blog do Lino
www.tiagolinno.wordpress.com